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27/10/2017 - Jornal do Comércio - Hospital Beneficência Portuguesa vive profunda crise financeira


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Comunicação Sindicato

Por Isabella Sander

Com 163 anos, o Hospital Beneficência Portuguesa (HBP) de Porto Alegre vive uma crise financeira sem precedentes. Cerca de 100 funcionários foram demitidos e os que ainda estão trabalhando não são pagos há pelo menos três meses. A dívida com a prefeitura, pela não prestação de alguns serviços, beira os R$ 6 milhões. As cirurgias foram suspensas. O atendimento ambulatorial está aberto, mas as internações estão restritas e não ocorrem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), dos 160 leitos, apenas 50 estão em funcionamento.

Além disso, segundo o vice-presidente do Sindicato dos Profissionais em Casas de Saúde do Rio Grande do Sul (SindiSaúde-RS), Julio Appel, faltam remédios básicos e a estrutura do prédio carece de manutenção. “O refeitório dos funcionários não tem as mínimas condições de higiene. Há muito dejeto de pombos no pátio interno, também”, aponta.

Devido ao atraso salarial, o serviço de traumatologia está sendo feito por clínicos gerais, uma vez que os traumatologistas entraram em greve por não receberem há seis meses. Também há denúncias de trabalhadores que não receberam montantes referentes a férias e a indenização após demissão. 

Appel relata que a situação do HBP só vem piorando ao longo dos últimos dois anos. “É a mesma situação do Hospital Parque Belém: passaram a atrasar o pagamento dos salários, pararam de pagar férias e, no ano passado, não tinham previsão de quitação do 13º salário. Tentamos várias reuniões com a direção e eles prometiam que pagariam”, conta.

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara de Vereadores realizou uma vistoria no local na quarta-feira. Segundo o presidente da comissão, vereador André Carús (PMDB), a situação é grave, principalmente devido à falta de pagamentos. As condições físicas dos locais de atendimento, por outro lado, foram consideradas boas, uma vez que algumas alas receberam reformas recentemente. Os problemas na instituição serão discutidos na Câmara no dia 21 de novembro, às 10h.

Conforme Carús, a diretoria alega que desde que assumiu a gestão do estabelecimento, há dois anos, está focada em resolver problemas financeiros deixados pela gestão anterior nos últimos seis anos. A má administração deixou débitos com funcionários, fornecedores e órgãos públicos. Uma auditoria interna está sendo feita para investigar essa questão.

Com dívidas, instituição busca empréstimos e apoio financeiro

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) identificou que foram pagos cerca de R$ 6 milhões a mais para o Beneficência do que realmente foi prestado de serviços. Em torno de R$ 1,7 milhão é repassado do poder público ao estabelecimento por mês. Desses, R$ 400 mil são referentes a um incentivo direto do Ministério da Saúde. O restante está deixando de ser pago pela prefeitura, para quitar a dívida. A falta desses recursos tem agravado a condição financeira da instituição. "O caminho ali é de falência", resume o vice-presidente do SindiSaúde-RS.

Ao Simers, o diretor do HBP, José Antônio Pereira de Souza, confirmou o atraso nos salários, mas não detalhou o que será feito para resolver a situação. A reportagem do Jornal do Comércio não conseguiu contato com Souza. A entidade médica apontou, ainda, que a direção está em tratativas com a Caixa Econômica Federal, para conseguir um empréstimo no valor de R$ 14 milhões. Outros R$ 2,5 milhões de empréstimo foram solicitados ao Banrisul, mas não foram autorizados pelo banco. A diretoria também busca apoio financeiro junto ao Ministério da Saúde.

Para Appel, a solução seria a municipalização do Beneficência. "As contas do hospital são uma caixa preta. Não dá para saber o que eles produziram, quais serviços prestaram, quem são os fornecedores", cita. A "caixa preta", sob a ótica do sindicalista, se repete em todos os hospitais filantrópicos, pois não pagam impostos, garantem 30% de atendimento via SUS e o resto particular ou por convênio e não precisam prestar contas tão detalhadas quanto as instituições  públicas.

 

Confira o original em http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/10/geral/593033-beneficencia-portuguesa-vive-profunda-crise-financeira.html