Sobre o regime de capitalização para a previdência
por David Deccache
Economistas do mercado financeiro alegam que um dos maiores problemas de curto prazo da economia brasileira é o grande déficit primário. Para eles, o déficit é fruto, principalmente, do resultado previdenciário negativo (a diferença entre o que se gasta com previdência e o que se arrecada para a previdência).
Dito isso, defendem uma ampla reforma que corrija o déficit já no curto prazo.
O regime de capitalização proposto por Paulo Guedes, basicamente transforma o nosso sistema solidário, aquele no qual todo o conjunto da sociedade contribui para a previdência dos idosos, em um sistema individual (cada um por si), pois essas pessoas que atualmente contribuem para a aposentadoria dos idosos, irão deixar de fazê-lo, direcionando os recursos para uma conta individual. Isto claramente faz com que a arrecadação caia e o déficit na previdência aumente.
Isto posto, fica claro que a preocupação do mercado não é o déficit fiscal, mas sim com a possibilidade de tornarem os sistemas previdenciários em uma mercadoria extremamente lucrativa e com grande potencial expeculativo pois com a existência de um sistema de previdência social, público e robusto obstrui o mercado privado de fundos da previdência.
Este mercado que se diz preocupado com os nossos netos é o mesmo que hoje realizou lucros monstruosos com as ações de fabricantes de armas que irão alavancar as vendas, lucros e mortes nos próximos anos no Brasil.
Caso chileno
O ministro da Fazenda Paulo Guedes deixou claro a todos que se inspira na mudança feita nas regras de aposentadoria no Chile, onde estudou e deu aulas na época das mudanças feitas pela ditadura de Pinochet.
Nada torna mais clara a intenção dessa turma de ladrões do povo. O modelo chileno elogiado por Guedes é o mesmo que atualmente faz com que 91% dos aposentados chilenos vivam com uma renda que não supera dois terços do salário mínimo!